Neoliberalismo e Austeridade: o Sul da Europa na crise da Zona Euro (2010-2017)
Tipo: Congresso
Local: FLUP
Data: 21 julho 2023 → 22 julho 2023
Call for Papers:
As ondas de choque da crise financeira de 2007-2008 lançaram o mundo numa recessão global cujos impactos foram severamente sentidos no Sul da Europa. Se a crise atingiu o sistema financeiro e bancário de toda a União Europeia (EU) e conduziu a uma prologada crise das dívidas soberanas da Zona Euro (2010-2017), os seus efeitos foram particularmente significativos e estruturais em Portugal, em Itália, na Grécia e em Espanha. Depois de, nos anos 1970 e 1980, a receita austeritária ter sido aplicada pelo Banco Mundial (BM) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), sobretudo, em países em vias de desenvolvimento nos continentes asiático, africano e sul-americano, mas também em alguns países europeus, como foi o caso de Portugal em 1978 e 1983, a crise da Zona Euro deu o mote para o aprofundamento e a generalização dessa política nos Estados periféricos da UE.
A financeirização da economia, o monetarismo, a desregulação das relações económicas e de produção, o desmantelamento do Estado Social e a ortodoxia em torno do controlo do défice, da dívida e da despesa públicos são eixos estruturantes e caracterizadores da agenda político-ideológica e económico-social do neoliberalismo. A popularização e legitimação internacional das suas teses com a atribuição do Nobel da Economia a Friedrich Hayek (1974) e a Milton Friedman (1976) e os triunfos eleitorais de Margaret Thatcher (1979) e de Ronald Reagan (1980) marcaram uma ruptura – acentuada pela implosão da URSS e do “socialismo real” (1989-1991) e pela afirmação da Terceira Via nos partidos social-democratas e trabalhistas do mundo euro-americano (1980-1990) – com a arquitetura política e económico-social da Europa Ocidental do pós-II Guerra Mundial.
A austeridade deve, nesse sentido, ser equacionada à luz do contexto, do processo e das consequências da hegemonização do neoliberalismo e da globalização. Estes inauguram uma nova ordem internacional – pós-soviética – marcada pela inflação qualitativa de palavras-conceitos-valores como mercado e indivíduo, mas também pela rejeição da ideologia, da pluralidade e da transitoriedade. A economia de mercado e a democracia liberal, tal como entendida no mundo euro-americano, representaram, para alguns, o fim da história e uma nova era de racionalismo técnico, económico e político. A pluralidade e a divergência políticas só são aceitáveis se não colocarem em causa o núcleo duro da doxa neoliberal. Com efeito, a ortodoxia e a inflexibilidade com que a UE, o BCE e o FMI formularam os resgates financeiros e os programas de ajustamento estrutural aplicados em Portugal e na Grécia e a forma como os dois primeiros lidaram com as crises da dívida soberana de Itália e Espanha, demonstram como, apesar das consequências no tecido económico-social destes países, o there is no alternative de Margaret Thatcher norteou a política económico-financeira da UE, do BCE e do FMI.
Os resgates e os programas de ajustamento financeiro impostos aos países mais afetados, bem como a recusa de soluções comunitárias tendentes à repartição dos custos e das consequências da crise e ao reequacionamento dos processos e mecanismos de integração económica, assentaram a sua justificação em considerações apriorísticas e essencialistas em relação aos povos e aos governos do Sul da Europa, atribuindo-lhes a responsabilidade pela crise financeira em que se encontravam. A Comissão Europeia, o BCE e os países economicamente mais desenvolvidos da UE rejeitaram quaisquer responsabilidades na crise que afetou, desproporcionalmente, os países do Sul da Europa, revelando, no seus discurso e ação, que aqueles que representavam como pouco produtivos, irresponsáveis, despesistas e mais suscetíveis à corrupção não eram merecedores do apoio e da solidariedade do rico e empreendedor Centro-Norte da Europa.
Organizado pelo CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço & Memória, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, este Congresso pretende contribuir para o aprofundamento da reflexão e do debate científico aberto, transversal e pluridisciplinar acerca das diferentes dimensões que caracterizam a agenda e o pensamento neoliberal, os processos de integração e de convergência dos países do Sul da Europa no seio da UE, a crise das suas dívidas soberanas e os programas de austeridade que aplicaram entre 2010 e 2017, sob as perspetivas da História, da Sociologia, da Ciência Política, da Filosofia, da Antropologia, das Ciências da Comunicação, do Direito, da Economia e dos Estudos Culturais e Literários.
Nesse sentido, convidam-se todos os interessados a submeter propostas de comunicação em torno das seguintes linhas temáticas:
- Neoliberalismo e austeridade: história, programa político-social, agenda económica, expressão académica e mediática;
- Neoliberalismo e austeridade como ética e moral;
- Neoliberalismo e austeridade no quotidiano: empobrecimento, desigualdade, precariedade, desemprego, emigração;
- Resgates e programas de ajustamento e as suas consequências;
- Neoliberalismo e austeridade – reflexões sobre o Estado Social;
- Sul da Europa e União Europeia: processo de construção e de integração europeia e na Zona Euro e as suas consequências para as economias dos Estados periféricos;
- Respostas e consequências políticas da crise da Zona Euro na UE e nos seus Estados-membros, particularmente nos do Sul da Europa;
- Auto-representações do Sul da Europa no contexto da crise e representações do Centro-Norte da Europa (imprensa, instituições, governos) em relação ao Sul;
- Populismo, neoliberalismo e crise: fenómenos interdependentes ou autónomos?;
- Alternativas políticas, sociais, económicas e culturais ao neoliberalismo e à austeridade;
- Expressões do neoliberalismo, da recessão e da austeridade na produção artístico-cultural.
Submeter resumo da comunicação até 31 de março de 2023
O resumo (máximo 300 palavras) deve ser enviado para neoliberalismoeausteridade@gmail.com
Quando submeter o resumo indique 3-5 palavras-chave e envie uma nota biográfica curta.
Comissão Organizadora:
Bruno Madeira (ICS/UM; CITCEM)
Conceição Meireles Pereira (FLUP; CITCEM)
Paula Grenha (ICS/UM)
Comissão Científica:
Ana Sofia Ferreira (IHC/UNL; FLUP)
António Costa Pinto (ICS
Fátima Moura Ferreira (Lab2PT; UM)
Gaspar Martins Pereira (CITCEM)
Luís Velasco-Martínez (Universidade de Vigo)
Manuel Loff (IHC/UNL; FLUP)
Patrícia Alves de Matos (CRIA/ISCTE)
Rodrigo Turin (UFRJ; LETHE)
Silvia Correia (FLUP)
Virgílio Borges Pereira (IS-UP)
Secretariado:
Bruna Lobo (CITCEM/FLUP)
Estefânia Lopes (CITCEM/FLUP)
Tânia Ferreira (CITCEM/FLUP)
Prazos de inscrição e submissão de comunicações:
Submissão de propostas de comunicação: 31 de março de 2023
Avaliação das propostas pelos revisores: 30 de abril de 2023
Resposta aos proponentes: 15 de maio de 2023
Inscrição: 15 de maio a 1 de junho de 2023
Valores de inscrição*:
Membros do CITCEM e participantes com comunicação – inscrição gratuita mas obrigatória (até 1 de junho de 2023)
Outros participantes sem comunicação: até 15 de julho de 2023 – 30€
Estudantes: até 15 de Julho de 2023 – 10€
Assistência gratuita (sem acesso à documentação e aos coffee-breaks)
* Inclui documentação, coffee-breaks e certificados de participação
Possibilidade de assistência e de participação online.
Línguas:
Português, espanhol, inglês e francês
Contactos:
Tel.: 226077177 | e-mail: citcem@letras.up.pt